segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Envelhecimento, Linguagem e Qualidade de Vida




O envelhecimento origina uma deterioração da capacidade comunicativa, do mesmo modo como o faz nos outros aspectos da vida e da saúde. Existem, segundo Mascaro (1997) “várias maneiras” de se envelhecer, que dependem de circunstâncias de ordem biológica, psicológica, social, histórica, cultural.
Conforme Rabadán (1998), a comunicação na velhice é determinada por um processo sociocultural, assinalado pelo afastamento do homem do sistema produtivo, e por um processo biológico, marcado pela deterioração, que é característica da última fase da vida.
As teorias biológicas que explicam o envelhecimento (processo que independe da vontade do homem), afirmam que o mesmo é resultado de fatores variados -intrínsecos e extrínsecos - que devem ser considerados em um contexto amplo, sendo a herança genética (fator de ordem intrínseca, juntamente com os radicais livres, o sistema de defesas e outros) quem determina a maior ou menor longevidade e as probabilidades de aparição de determinadas doenças. Entre os fatores extrínsecos -igualmente importantes- destacam-se a exposição à radiação, à poluição, fatores alimentares e o estresse.
Assim, do ponto de vista biológico, o envelhecimento é caracterizado por modificações sucessivas de todas as estruturas e sistemas, que provocam uma diminuição da capacidade de adaptação ao meio ambiente. Ribeiro (1999) diz que todos os seres vivos de reprodução sexuada envelhecem, modificando-se com o tempo em direção a uma diminuição de sua performance.
O tema do envelhecimento adquire excepcional relevância neste momento pois no Brasil têm acontecido, nas ultimas décadas, um crescimento acelerado da população idosa. Silvestre et al (1996) e Zimerman (2000) revelam que o nosso país vem apresentando uma expressiva mudança no seu perfil populacional, pois de uma situação de elevadas fecundidade e mortalidade, passou-se para outra, de baixa fecundidade e menor mortalidade. A esperança de vida atualmente é de 67 anos e, em 2025, considera-se que poderá chegar aos 74 anos (Zimerman, 2000). Isto torna necessário que haja maior dedicação e mais estudos por parte dos profissionais que se ocupam da saúde desta parcela da população, incluído o fonoaudiólogo.
Concordamos com Zimerman (2000) em que, em função das mudanças demográficas ocorridas, não é mais possível ignorar a necessidade de atenção à velhice por parte dos âmbitos político, econômico, da saúde e institucional. Os idosos têm necessidades e características próprias que devem ser atendidas através da criação de novos espaços, serviços e produtos, assim como da reformulação de posturas e conceitos.
Não existe um consenso em relação a qual é “idade do envelhecer”, assim como não há um marco fixo para definir que esta ou aquela seja a idade de se “ficar velho”. Há, não obstante, acordo entre os diversos campos científicos que estudam o envelhecimento em relação à grande heterogeneidade existente entre os idosos em todos os aspectos. A idade cronológica não ocasiona o início da velhice nem de qualquer outro período etário; ela deve servir como um parâmetro para se julgar a maturidade social do indivíduo, ou como uma referência para compreender as mudanças evolutivas (Néri, 1995).
Tanto os geriatras -médicos que se dedicam a estudar, prevenir e tratar os aspectos patológicos do envelhecimento - quanto os gerontólogos - especializados nos aspectos biológicos, sociais e psicológicos - estão de acordo ao afirmar que o envelhecimento é uma experiência individualizada e heterogênea (Mascaro, 1997). Tal fato exige que estes profissionais, assim como todos os outros que se dedicam ao estudo do envelhecimento e ao cuidado do indivíduo idoso, levem em consideração esta singularidade para não cometer o erro de fazer generalizações impróprias.
O envelhecimento é um campo de interesse, pesquisa e atuação de grande número de especialidades. Ele constitui um âmbito ímpar para o trabalho interdisciplinar, uma vez que profissionais de diversas áreas (medicina, enfermagem, psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, gerontologia, terapia ocupacional, etc.) têm possibilidades de oferecer uma contribuição decisiva para melhorar a qualidade de vida do idoso, através da prática do intercâmbio e da cooperação, assim como da busca de uma linguagem comum entre as diversas ciências.
Néri (1995) afirma que a velhice não é um período caracterizado só por perdas e limitações, sendo possível manter e até aprimorar as funções cognitivas, físicas e afetivas, a despeito do aumento da probabilidade de doenças e limitações. Um dos desafios que as ciências atualmente enfrentam é o de perceber os limites e as potencialidades para o desenvolvimento na velhice, assim como as condições que aceleram, retardam ou compensam os resultados das mudanças ocorridas como conseqüência do envelhecimento.
É aceito entre os especialistas que há muito para se estudar a respeito do envelhecimento, bem como a idéia de que é essencial para o desenvolvimento integral na velhice a busca de um equilíbrio entre potencialidades e limitações. Se por um lado, o envelhecimento significa declínio e incapacidade, o indivíduo e a cultura podem criar condições de progresso e desenvolvimento. (idem, 1995).
Fala-se hoje de velhice bem-sucedida e velhice produtiva, expressões usadas na literatura quando se fala de envelhecer bem. O conceito velhice bem-sucedida se relaciona à idéia de realização do próprio potencial para alcançar um grau desejável de bem-estar físico, psicológico e social, assim como ao logro de um funcionamento similar ao da população mais jovem e à “manutenção da competência em domínios selecionados do funcionamento, através de mecanismos de compensação e otimização”. (Néri, 1999: 116).
Velhice produtiva é um conceito que compreende as possibilidades de o idoso exercer diversas funções e papéis num momento em que cada vez mais pessoas vêem como possível envelhecer bem, considerando-se como manifestações de produtividade na velhice: exercer trabalhos remunerados e também não-remunerados, porém valiosos social e economicamente, como cuidar de outros idosos, da casa, dos netos; trabalhos voluntários na comunidade; atividades de lazer proveitosas para a própria pessoa; a criação de novas áreas de consumo como conseqüência de uma melhoria do padrão de vida (idem, 118)
A Fonoaudiologia no Brasil vem pesquisando a linguagem do indivíduo idoso nos casos de afasias e das demências senis, e também são realizados estudos para compreender e minimizar as conseqüências da presbiacusia e da presbifonia na comunicação. Porém, nota-se uma falta de estudos relacionados à linguagem no envelhecimento sadio, estudos estes necessários para que seja possível atuar preventivamente, com o objetivo de garantir uma maior qualidade de vida.
É essencial conhecer a linguagem das pessoas idosas, as mudanças que ocorrem ao longo do tempo, seus mecanismos e deficiências. Deste modo será possível desenhar programas de intervenção e prevenção a serem postos em prática no âmbito familiar, nos clubes de terceira idade, nas instituições, nos lares para idosos, e desse modo contribuir para conservação da comunicação destes indivíduos nas melhores condições possíveis.
A intervenção deve ter como meta básica possibilitar o desenvolvimento de estratégias que ajudem a aprimorar as interações sociais e familiares, paliando e compensando a deterioração lingüística. Os idosos podem e devem, quando é possível, conservar ou readquirir o controle de suas vidas, realizar atividades criativas, integrando âmbitos sociais ricos e estimulantes. Ao estarem inseridos em grupos familiares e sociais, os idosos têm a oportunidade de realizar troca de experiências que favoreçam o desenvolvimento pessoal, criando novas possibilidades de humanização e abordagem de seus problemas (Penteado, 2000).
A vida dos idosos parece ser feita de rotinas e automatismos: os que vivem em família ou em lares vêem sua vida organizada por outras pessoas, de modo que suas perdas sensoriais ou de memória sejam compensadas e a segurança seja garantida. Porém, os idosos menos deteriorados devem ter maior controle de todos os aspectos de sua vida, realizando atividades criativas e tomando suas próprias decisões.
Cabe aos profissionais que lidam com o envelhecimento orientar os idosos quanto aos aspectos relativos a uma vida qualitativamente melhor: adoção de uma alimentação equilibrada, manutenção de hábitos saudáveis, combate ao sedentarismo, práticas voltadas à prevenção de doenças, manutenção das relações afetivas e sociais e das atividades que favoreçam as interações e o uso da comunicação. 

Referências Bibliográficas
MASCARO, S. A.: O que é velhice. São Paulo: Brasiliense, 1997.

NÉRI, A. L.: O Desenvolvimento Integral do Homem. A Terceira Idade.
...São Paulo:Ano VI, No. 10, 4-15, julho de 1995.

NÉRI, A. L. e CACHIONI, M.: Velhice bem-sucedida e educação. In: NERI, A. L. et
...al: Velhice e sociedade. Campinas, São Paulo: Papirus, 1999.

PENTEADO, R. Z.: A Linguagem no Grupo Fonoaudiológico: potencial latente
...para a Promoção da saúde.
São Paulo, 2000. 146 p. Dissertação (Mestrado
...em Saúde Pública) - Universidade de São Paulo.

RABADÁN, O. J.: Lenguaje y envejecimiento. Bases para la intervención. Barcelo-
...na: Masson, 1998.

RIBEIRO, A.: Aspectos biológicos do envelhecimento. In: RUSSO, I. C. P:
...Intervenção Fonoaudiológica na Terceira Idade. Rio de Janeiro: Revinter,
...1999, p 1-11.

SILVESTRE, J. A., et al: O Envelhecimento populacional brasileiro e o setor de
...saúde. Arquivos de Geriatria e Gerontologia, Vol 0, No. 1, 81-89, set 1996.

ZIMERMAN, G.I: Velhice. Aspectos Biopsicossociais. Porto Alegre: Artes Médicas
...Sul, 2000.


Bibliografia Complementar

fonoaudiologia.com

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